Na carta que escreveu aos colossenses, no capítulo 3, o apóstolo Paulo confronta os irmãos, se de fato eram nascidos de novo. Ele questiona os crentes dizendo: "... se já ressuscitastes com Cristo..." e passa a citar algumas evidências dessa "ressurreição" com o Senhor. Algumas delas são:
- Pensamento transformado (v. 1,2) - o nascido de novo tende a pensar nas coisas de cima e não nas que são da terra;
- Disposição em mortificar a carne e sua manifestação através das obras do corpo (v.5-9) - abandono das práticas pecaminosas do tipo prostituição, impureza, apetite desordenado, ira, malícia etc, que antes eles viviam praticando;
- Revestimento do novo homem em detrimento do velho, que deve ser despido (v.10-14) - ao mesmo tempo que deixa a velha vida para trás, intensifica a busca da nova vida e seus valores, "revestindo-se" de misericórdia, benignidade, humildade, mansidão, longanimidade, perdão, tolerância e, sobretudo, amor;
- Experimenta a paz de Deus (v. 15) - todo salvo tem um chamado para a paz e esta reina em nossos corações;
- É habitado pela Palavra de forma abundante (v. 16, 17) de forma que vive uma vida de ministração mútua, cantando e agradecendo a Deus e fazendo tudo em nome do Senhor.
Este é um retrato bem vívido daquele que é nascido de novo ou, como diz Paulo aqui, daquele que já ressuscitou com Cristo. No entanto, cabe lembrar que o apóstolo se utiliza de verbos no imperativo (Pensai, Mortificai, Não mintais, Revesti-vos, Fazei), dando aos seus leitores (e a nós) o entendimento que ser ressuscitado com o Senhor não significa uma vida de passividade, mas que é preciso mover-se no processo de transformação rumo a vida de plenitude em Cristo.
Esse processo é, às vezes (ou melhor seria dizer sempre) doloroso. Por isso, o autor sagrado usa a expressão "Mortificai" (numa outra versão: Fazei morrer...). Em tradução livre: "matem o velho homem", daí o título desta reflexão: Seja o seu próprio carrasco, que é "aquele indivíduo responsável por executar a pena de morte" - de acordo com o Dicionário Online (www.dicio.com.br). Somos chamados a "cortar na própria carne". Essa é uma responsabilidade individual e intransferível de cada crente verdadeiramente convertido. Deus já fez a sua parte e já colocou à nossa disposição os recursos ou meios de graça para continuarmos essa metamorfose espiritual.
Mas essas não apenas palavras de Paulo, pois todo o Novo Testamento - dos evangelhos à revelação de João - está cheio de exortações nesse sentido. O Senhor, por exemplo, disse, no Sermão do Monte, coisas do tipo: "Se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o", ou "Se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti..." (Mt 5.29,30). Parece radical, não é mesmo? Na verdade, é radical mesmo. Uma ruptura com tudo o que nos liga com a vida anterior à nossa união com Cristo.
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