Estudo sobre os ascendentes antedeluvianos de Cristo

 A promessa de Gn 3.15 e a genealogia de Cristo



Depois do pecado no Éden, e sua consequente expulsão, Adão gera filhos. O primeiro foi Caim que por inveja matou Abel, seu irmão mais novo (Gn 4). Adão e Eva "perdem" os dois filhos de uma só vez, pois com a morte de Abel, Caim temendo o juízo humano e divino, foge para uma terra distante, onde dá início a sua geração que começa a se destacar por sua engenhosidade, violência e rebeldia contra Deus. Esta linhagem será a dos filhos dos homens que está registrada em Gn 6.1-2. No entanto, Deus não se esqueceu de sua promessa de que da semente (descendência) da mulher haveria de nascer um que pisaria na cabeça da serpente (Gn 3.15). Sem dúvida, esta foi a primeira menção da vinda do Messias, do Salvador, que traria a restauração dos homens a Deus e vingaria o engano do Diabo. E foi assim que Deus concedeu a Adão um novo descendente que foi chamado de Sete (que significa renovo) o qual gerou um filho de nome Enos. Em Gn 4.26, lemos que o culto a Javé é estabelecido a partir do nascimento de Enos, fato muito importante para o projeto divino de trazer seu filho ao mundo. No entanto, até mesmo esta geração de piedosos iniciada em Sete foi contaminada pela corrupção generalizada que se estabeleceu até o Dilúvio. A partir de agora vamos lançar o olhar sobre alguns personagens importantes da genealogia de Cristo para identificar como Deus foi preparando o terreno ao longo de milênios para a chegada do Redentor. Não é possível nos determos em todos os ascendentes do Senhor, seja por falta de espaço, tempo e fontes de informação. Mas é possível ir pontuando alguns nomes e sua importância para que se entenda e perceba o trabalhar de Deus nesse processo e para que se tenha uma compreensão mais ampla da centralidade de Cristo através da Bíblia.


I. Os Ascendentes de Cristo Antediluvianos Mais Importantes

Enos: O nascimento de Enos marca um momento de resgate na comunhão do homem com Deus. Seu nome possivelmente significa "ser humano", ou "mortal" ou ainda "homem". Há pouco material informativo na Bíblia sobre esse personagem; Somente que é filho de Sete, que gerou seu primogênito Cainã aos noventa anos e viveu ao todo novecentos e cinco anos. O fato marcante, porém da vida de Enos, é que ele foi o primeiro a invocar o nome do Senhor, depois da morte de Abel. Provavelmente com a morte de Abel, o culto ao Criador havia sido interrompido e estava ameaçado, consequentemente a linhagem divina também estava comprometida. Enquanto a geração de Caim florescia e se corrompia cada vez mais como seu pai, não havia ninguém que procurasse sistematizar o culto do verdadeiro Deus. Mas é em Sete, Enos e seus descendentes que Deus vai iniciar uma nova trilha para a concretização de seu plano redentor. Moisés registra com destaque o estabelecimento do culto divino a partir de Enos escrevendo: "E a Sete mesmo também nasceu um filho; e chamou o seu nome Enos; então, se começou a invocar o nome do Senhor." (Gn 4.26). Pronto, o plano de Deus estava assim iniciado, pois, como disse Jó, nenhum dos planos de Deus podem ser frustrados (42.2). É interessante perceber que Deus não foi buscar Caim ou um de seus descendentes para criar a linha genealógica de seu filho, pois Ele não "reaproveita" nada, antes Ele cria e faz coisas novas e santas (separadas). Foi o que Jesus disse para Nicodemos quando lhe falou sobre o novo nascimento (Jo 3.3). O homem velho do pecado deve morrer para que sejamos novas criaturas (2 Co 5.17). Nem se aproveitam os odres da velha religião para se guardar o vinho novo (Mt 9.17). Ele prometeu e criou uma nova aliança com o seu povo (Jr 31.31-34; Mt 26.28). Em Enos se inicia uma geração de piedosos que transporiam a destruição do Dilúvio e depois continuaria em Abraão até a vinda de Cristo.

  • Enoque: depois de Enos, o texto sagrado de Gn 5 segue apresentando seus descendentes de forma rápida, mencionando em geral o nome de seus primogênitos e o tempo total de anos que viveram. Assim: Enos gerou a Cainã, Cainã gerou a Maalalel, Maalalel gerou a Jarede que gerou a Enoque, o sétimo depois de Adão, conforme nos diz Judas (v. 14) em sua pequena epístola. Sem dúvida, Enoque cujo nome significa “o iniciado, dedicado, consagrado”, é um personagem marcante da linha de Cristo. Ao ser introduzido na genealogia do capítulo 5, a enfadonha sequência “... viveu… gerou … viveu … gerou … morreu” é quebrada, pois dele se diz: “E andou Enoque com Deus, depois que gerou a Matusalém, trezentos anos e gerou filhos e filhas…” (v. 22). Todos os anos da vida de Enoque foram 365 somente. Embora para nós isso ainda seja uma cifra espantosa, não era nada extraordinário para aquele período em que os homens chegavam a viver quase mil anos. Mas por que Enoque “viveu” tão pouco? Na verdade, ele nunca morreu! Conforme o v. 24, que volta a enfatizar que ele “andou com Deus”, é revelado que Enoque foi arrebatado deste mundo, isto é, foi tomado por Deus e nunca mais foi visto! Assim, ele ganha importância pois se tornou um emblema do próprio rapto do povo de Deus que sucederá na segunda vinda de Cristo (1 Ts 4.17). De sua vida se pode extrair um belo exemplo de temor a Deus em um mundo hostil aos que servem ao verdadeiro Deus. Ele, mais do que oferecer sacrifícios esporádicos ao Senhor, tornou-se o primeiro pregador e profeta daquela geração. Judas diz que ele profetizou sobre a vinda do Senhor com milhares de seus santos para julgar os ímpios (v. 14,15). Seu “andar com Deus” oferece um ensino sobre santidade digno de ser imitado até os dias de hoje (1 Jo 2.6; Gl 5.16), Sobre Enoque, ainda é importante fazer menção do que o autor da epístola aos Hebreus desse santo homem de Deus e que está transcrito a seguir: “Pela fé, Enoque foi trasladado para não ver a morte e não foi achado, porque Deus o trasladara, visto como, antes da sua trasladação, alcançou testemunho de que agradara a Deus.” (Hb 11.5). Ele foi, assim, incluído entre os heróis da fé do capítulo 11. Como é gloriosa a história desse ascendente de Cristo, pois assim como o seu mais ilustre descendente (Jesus), ele agradou a Deus por fazer a sua vontade (compare com Jo 4.34; também leia Mt 3.17). Por mais que tenham procurado por Enoque, seus filhos, amigos e vizinhos nunca mais o acharam! Mas aqueles que creram em Jesus, um dia verão, não somente Enoque, mas todos os santos e patriarcas de todos os tempos. Em Enoque, a promessa de Gn 3.15 também estava mantida!

Noé: se Enoque é o sétimo depois de Adão, Noé é o décimo. Retomando a linha sucessória de Adão a partir de Enoque: Enoque gerou a Matusalém que gerou a Lameque que gerou a Noé. O fato mais relevante sobre o primogênito de Enoque, Matusalém, é que foi o homem mais longevo de seus dias. Viveu incríveis 969 ano! Lameque, filho de Enoque, gerou seu primeiro filho somente aos cento e oitenta e dois ano (Gn 5.28), a quem pôs o nome de Noé. Seu nascimento foi marcado por um grande enfado na vida da linhagem piedosa de Enos. Seu nome não foi escolhido ao acaso, mas de forma esperançosa e profética por seu pai que disse: “Este nos consolará acerca de nossas obras e do trabalho de nossas mãos, por causa da terra que o Senhor amaldiçoou.” (v. 29). Provavelmente, a terra se tornara árida e imprópria para o cultivo, pois ele (Lameque) fez referência à dureza do trabalho; além disso, viviam provavelmente num mundo sem lei, todos fazendo suas próprias regras, usando de violência para tomar o que alguns produziam com esforço. Sangue humano era derramado constantemente sem piedade. Parece que haviam se especializado na “arte” de matar e se vangloriavam de seus crimes hediondos (Gn 4.23,24). Deus também se enfadou de sua criação e determinou um severo juízo para todos (Gn 6.3-7). O Criador tomou a decisão de destruir sua criação. Mas havia uma promessa a ser cumprida e por isso, Ele procurou alguém que lhe agradasse para conservar com vida e que através dele viesse o “descendente da mulher”, embora não imediatamente. Como diz o Sl 14.2: “O Senhor olhou desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia algum que tivesse entendimento e buscasse a Deus.” “Noé, porém, achou graça aos olhos do Senhor.” (Gn 6.8)

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