Removendo montanhas pela fé

REMOVENDO MONTANHAS PELA FÉ




 

Então, os discípulos, aproximando-se de Jesus em particular, disseram: Por que não pudemos nós expulsá-lo? E Jesus lhes disse: Por causa da vossa pequena fé; porque em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá - e há de passar; e nada vos será impossível. (Mt 17.20,21)

Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Em verdade vos digo que, se tiverdes fé e não duvidardes, não só fareis o que foi feito à figueira, mas até, se a este monte disserdes: Ergue-te e precipita-te no mar, assim será feito. E tudo o que pedirdes na oração, crendo, o recebereis. (Mt 21.21,22)

Esses textos sempre me deixaram inquieto e aflito a respeito da minha fé. Como uma pequena fé pode realizar feitos tão espantosos como remover uma montanha ou uma árvore de lugar? Tanto a montanha quanto a árvore são coisas enraizadas profundamente na terra (Jn 2.6) e não são fáceis de mudar de lugar. Fico então pensando que minha fé é tão minúscula quanto um ser microscópico, como uma bactéria ou mesmo um vírus, pois muitas vezes me sinto impotente por não realizar grandes proezas para o Reino de Deus. 

De que Jesus estava realmente falando? Nossa mente racionalista nos leva de imediato para uma leitura literal do texto, tentando imaginar a cena de uma grande montanha sendo transferida de lugar ou algo do tipo, no entanto, não vimos Jesus ou os discípulos ordenando a montes ou árvores para saírem de seus lugares seja por qual motivo for. Logo, lendo com mais atenção e de forma humilde, com a ajuda do Espírito Santo, somos levados a compreender o sentido espiritual dessas passagens que falam a respeito da fé e de seu poder maravilhoso. 

A resposta de Jesus nos dois textos são bem parecidas com uma leve variação, mas os contextos são diferentes. No primeiro texto, Jesus havia acabado de descer do Monte da Transfiguração com Pedro, João e Tiago e encontra os outros discípulos cercados de uma multidão de pessoas em alvoroço. Jesus pergunta o que estava acontecendo e um homem do meio da multidão lhe apresenta seu filho possesso por um espírito espírito maligno que desde a infância o atormentava e tentava matá-lo. O homem disse a Jesus que trouxera seu filho aos discípulos, mas estes não conseguiram expulsar o demônio. O Senhor então repreendeu o espírito mau e entregou o jovem são a seu pai. Depois, em particular, os discípulos perguntaram a Jesus porque não puderam expulsá-lo e Jesus lhe disse que fora por causa da sua incredulidade (versão ACF) e que, se tivessem fé pelo menos do tamanho de um pequeno grão tal como o grão de mostarda, eles seriam capazes de até mesmo mover montanhas. 

O contexto da segunda passagem da epígrafe relata a história da maldição que Jesus lançou sobre uma figueira a caminho para Jerusalém, já na semana de sua paixão. Estando com fome, dirigiu-se à uma frondosa figueira de folhas verdes desejando encontrar nela algum fruto; nada encontrando a não ser folhas, o Senhor pronunciou uma maldição sobre ela determinando que se secasse para que nunca mais “enganasse” ninguém e imediatamente ela secou-se, fato que causou espanto aos discípulos. Foi então que Jesus lhes disse que eles poderiam, através de uma fé firme, fazer não somente o que acontecera com a figueira, mas poderiam até ordenar a um monte para que saísse de seu lugar e se lançasse ao mar e isso aconteceria. 

Em ambas as passagens fica evidente a importância da fé. Sobre ser ela do tamanho de um grão de mostarda - um dos menores grãos que há (Mt 13.31,32) - não discutiremos aqui, mas apenas diremos que Jesus estava se referindo à necessidade de se ter fé, não importando o tamanho dela. O que ele de fato estava querendo ensinar era sobre como podemos e devemos usar a fé que temos. Com isso, nosso Senhor estava incentivando a seus discípulos e a nós ter fé, isto é, a crermos, pois através dela, podemos realizar grandes feitos para Deus. 

Mas o que é a fé e para que serve? Seria ela uma poção mágica ou uma fórmula mística para realizar curas, materializar desejos, ou criar fenômenos sobrenaturais? De fato, não podemos negar que eventos inexplicáveis têm acontecido através da fé, sendo que muitos deles estão registrados na Bíblia. Esses eventos são raros e, por isso mesmo, são considerados miraculosos. Mas esse é só um aspecto do poder da fé. Há um outro que diz respeito a uma fé para a prática diária de nosso chamado cristão.

Para definir a fé não vejo melhor significado do que a de Hebreus 11.1: Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que não se veem. Em seguida, o autor aos hebreus passa a relacionar uma lista de pessoas comuns que realizaram maravilhas ou, simplesmente, suportaram grandes provas e sofrimentos por causa de sua fé. Então, podemos compreender que a fé é a base sólida de uma esperança futura e de verdades e coisas que já existem, mas não são visíveis. Assim, a fé aponta para o futuro, mas também para o presente. Crer é aceitar o pressuposto de que há algo além do mundo material com suas rígidas leis da física. É como render-se ao inimigo e depor as armas aos seus pés. Isso não anula a razão, pois esta passa a operar sob outros parâmetros que não os meramente humanos. 

No versículo 6, do mesmo capítulo 11 de Hebreus, o autor sagrado declara a fé como um requisito imprescindível para os crentes, isto é, para aqueles que buscam se aproximar de Deus. Textualmente ele diz: Sem fé é impossível agradar-lhe (a Deus)... Em toda a carta aos hebreus, o Espírito Santo está clamando para que os cristãos tenham fé, que não desistam e não voltem para os rudimentos judaicos. 

Então, concluímos que a fé é produzida em nós, que precisamos gerar fé. Talvez alguns fiquem escandalizados com isso e até me chamem de herege. Mas de que outra forma podemos compreender o que a Bíblia diz sobre fé e a necessidade de crermos? É claro que nada temos de nós mesmos, mas que tudo provém de Deus inclusive a fé. Mas defendo que haja uma sinergia entre nós e Deus no aspecto da fé. Em matéria de fé, o ser humano precisa dizer sim para Deus e obedecer à vontade divina. Quando estamos dispostos a crer, o Senhor passa a nos ajudar na “produção” da fé. O pai do jovem lunático pediu ao Senhor que o ajudasse em sua incredulidade, isto é, que o ajudasse a crer. Os discípulos também pediram ao Senhor para que lhes aumentasse a fé (Lc 17.5). 

Mas o que isto tem a ver com remover montanhas? Creio que tudo, pois a maior montanha que deve ser removida não está fora de nós. Trata-se da montanha da incredulidade. E para removê-la somente poderemos fazê-lo se tivermos fé. Talvez alguém proteste e diga que não tem isso em seu coração, pois já é um crente. Será? A figueira que foi amaldiçoada era uma metáfora de Israel, suas folhas verdes se assemelhavam à exuberante religiosidade da nação, mas mesmo assim não creram em Jesus como o Messias tão aguardado. Por diversas ocasiões, vemos os discípulos sendo repreendidos pela falta de fé e de compreensão dos planos divinos. Tudo o que Deus pede de nós é a fé, mas nem sempre temos isso para lhe dar. Mesmo crentes veteranos podem ter o coração endurecido, hermético e insensível ao Espírito Santo. Por isso, num apelo amoroso e dramático, Deus nos diz em sua Palavra: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração, como na provocação. (Hb 3.15). O mesmo escritor também diz: Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração incrédulo e infiel, para se apartar do Deus vivo. Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado. (3.12,13)

É possível que uma pessoa, mesmo depois de haver crido, abandone a fé novamente. Por isso, todos os dias precisamos ordenar com a pequena fé que temos para que as montanhas da incredulidade e da dureza de coração sejam arremessadas para longe de nós. Só assim faremos proezas em Deus (Sl 108.3). Foi entregando seu pequeno lanche a Jesus que um menino alimentou mais de cinco mil pessoas. Foi com uma pequena pedra guiada pela fé que Davi derrotou um gigante. 

Permaneçamos firmes no Senhor, sem duvidar. E Ele nos ajudará.


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